Google+ O Verbo era Deus – Erro das Testemunhas de Jeová ~ APOLOGÉTICA DA FÉ CATÓLICA



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sexta-feira, 27 de julho de 2012

O Verbo era Deus – Erro das Testemunhas de Jeová




Já aconteceu comigo algumas vezes: membros do grupo Testemunhas de Jeová batem à minha porta para pregar A Sentinela e ler passagens da sua pastiche¹ da Bíblia – e, dentre tantas passagens modificadas deliberadamente, a que mais chama atenção é, sem dúvida, João 1,1. Por esta razão, segue uma análise didática sobre a tradução deste trecho a fins de demonstração.
Neste artigo, discutiremos a tradução de João 1,1 em contrapartida com a tradução/explicação da denominação soi-disant cristã Testemunhas de Jeová. A partir do grego, demonstraremos ao leitor, passo a passo, a maneira correta de traduzir esta passagem bíblica. A maioria das bíblias [traduções católicas e protestantes] traz:
“No princípio era o Verbo
E o verbo estava com Deus

E o verbo era Deus
João 1,1 é uma das muitas passagens da Bíblia que afirmam a divindade de Jesus Cristo, razão pela qual é foco de interesse das doutrinas que tentam negar esta verdade – e as Testemunhas de Jeováassim negam; são notadamente conhecidas por serem uma das seitas que defendem que Nosso Senhor Jesus Cristo é o Arcanjo Miguel ². Como esta última heresia nos exigiria para muito além de traduções e interpretações, mas representa propriamente o que São João escreveu na segunda epístola, versículo 7, nos restringiremos apenas ao que anunciamos no primeiro parágrafo.

Testemunhas de Jeová
As Testemunhas de Jeová utilizam a chamada Tradução do Novo Mundopara a Bíblia, que supostamente teria sido feita a partir dos originais hebraico, aramaico e grego, mas que acabou condenada por todos os estudiosos das línguas citadas. Charles Russell, responsável pela corrupção do texto, conseguiu a façanha de ser levado a julgamento e não conseguir identificar as letras do alfabeto grego, como consta no processo. Na Tradução do Novo Mundo lê-se, onde destacamos em negrito anteriormente:
“E o Verbo era [um] Deus”

A palavra “um” é inserida antes de Deus, de modo que o Verbo Encarnado [João 1,14] não era o próprio Deus, mas “um” Deus. Ora, vejamos que artimanha a seita utiliza como explicação para isto, de acordo com os originais gregos. [As palavras em grego serão transcritas aqui em caracteres latinos, sem os “acentos”, para facilitar o entendimento]
Em Grego, João 1,1:
“En arche en o logos
Kai o logos em pros tos Theon

Kai o logos en Theos”
Em negrito, temos a passagem em Grego que nos interessa neste momento, e que foi traduzida pelas Testemunhas de Jeová como “E o verbo era [um] Deus”. Vejamos:
Em grego, não existe artigo indefinido [um, uma]. Quando a palavra não apresenta o artigo [definido], e quando o contexto e as regras exigem, a tradução acrescenta o artigo indefinido na frente. Veja o exemplo nas frases abaixo:
“Ego eimi e phone”
[Presença do artigo em negrito: “Eu sou a voz”]
“Ego eimi phone”
[Ausência de artigo: “Eu sou uma voz”]

Desse modo, a Tradução do Novo Mundo nos dá a explicação que, de acordo com esta regra gramatical grega, o correto seria acrescentar o artigo indefinido “um” antes de Deus na passagem “Kai o logos en Theos”, uma vez que antes de “Theos” não viria o artigo definido – e que da mesma forma como ocorre em outras passagens do Novo Testamento, em que os diversos tradutores utilizam esta regra, da mesma forma em João 1,1 esta regra pode ser aplicada. Mas será que isso é verdade? Vejamos:
“Kai o logos en Theos”


Em grego, quando o sujeito e o predicativo do sujeito são constituídos por substantivos, deve-se observar a regra de que o sujeito [Logos/Verbo] é acompanhado de artigo definido, enquanto o predicativo do sujeito [Theos/Deus] não é. Desta forma, Theos não deve vir com o artigo. Na língua grega, a posição dos termos de uma oração varia, e não necessariamente determinará a função gramatical da palavra, uma vez que as funções gramaticais são identificadas pelos chamados “casos” – onde uma mesma palavra terá sua grafia modificada de acordo com a função que desempenha na oração. Este exemplo pode também ser visto em João 1,1: “pros tos Theon” e “logos en Theos”, onde os leigos em latim, alemão, grego ou afins, podem observar como isso funciona. Tomemos a seguinte frase:
Kai Theos en o logos”

Esta frase, embora traga “Theos” na frente, significa a mesma coisa que “Kai o logos en Theos”. A primeira vista, poderíamos traduzi-la por “E Deus era o Verbo”, mas isto não estaria correto. Muitas frases em grego trazem diferentes “arrumações” de seus termos [assim como em latim], e, no entanto, na hora de traduzir para uma língua, como para o português, teríamos o mesmo significado. “Kai Theos en o logos”, então, significa “E o Verbo era Deus”. No caso de “Kai o logos en Theos” ou “Kai Theos en o Logos”, o que nos permite saber “quem era o quê” é justamente a presença do artigo [neste caso, “o”] antes do sujeito. Há ainda outra possibilidade de escrever esta mesma frase, em grego, sem que nenhum dos termos venha precedido de artigo. No caso das frases nominais cujo sujeito e predicativo do sujeito sejam substantivos, e nenhum deles esteja acompanhado de artigo, o predicativo do sujeitodeve vir em primeiro lugar na frase:
“Kai Theos en logos” Igualmente, temos o significado de que “O verbo era Deus”. Poderíamos ainda escrever:“Kai Theos Logos.”

Nesta última, não temos o artigo e não temos também o verbo [“en”] de ligação explícito. O significado, no entanto, se mantém: “O verbo era Deus”.
Dessa forma, fica bastante evidente que a tradução de João 1,1 imposta pelas Testemunhas de Jeová, e por extensão á toda a Bíblia, é imoral, inaceitável, criminosa. Não tem qualquer fundamento. Há exemplos de imoralidades como essa em praticamente todos os versículos da Tradução do Novo Mundo, mas a passagem escolhida aqui é a mais gritante. Há inúmeras explicações disponíveis sobre esta passagem, e na verdade muito melhores do que esta, porém a elaborei pensando que poderiam servir aos leigos de nível 1, ao contrário das explicações que encontrei, que ou serviam aos leigos de nível 2 ou 3 ( regras gramaticais gregas pouco mastigadas) ou eram feitas por pessoas que apenas tinham compilado informações. Há explicações excelentes nos livros (algumas pessoas se deram a esse trabalho, ainda bem). Deduzimos ainda que:

- Se João desejasse escrever que o Verbo não era Deus [se ignorarmos todo o resto da bíblia que afirma que o Verbo era] e quisesse, como alegam as Testemunhas, atribuir ao Verbo uma qualidade divina, ele teria usado o adjetivo Theios.
- Afirmar que existe mais de um Deus é politeísmo.
Uma objeção: Russel morreu em 1916. A Tradução do Novo Mundo foi feita na década de 1950. O que ele tem haver com a corrupção do texto?
De fato Russel morreu em 1916, e embora a “conclusão” da chamada Tradução do Novo mundo [coloco entre aspas, já que a essa altura sabemos que não houve tradução alguma] tenha sido anunciada oficialmente por volta de 1950, é sabido que Charles Russel, com o intuito de propagar as suas próprias ídéias sobre a Sagrada Escritura (e reinvidicando conhecimento da língua grega), pregava para os membros das Testemunhas de Jeová, tanto em cultos, como em publicações (a antiga revista Torre de Vigia e versões “corrigidas” dos evangelhos), essas novas versões. De que forma ele fazia isso? Ora, de má fé e mentindo, dizia ele que todas as traduções existentes até então eram obras falsas do verdadeiro conteúdo dos evangelhos,de maneira que ele próprio tendo profundo conhecimento da língua grega era capaz de corrigir para seus fiéis – e finalmente lhes oferecer o sentido correto daquelas passagens. Isto significa, por exemplo, que quando São João Evangelista fala da “glória do Filho unigênito”, este deturpador dizia que não era do Filho unigênito, mas “a glória COMO SE FOSSE DE um filho unigênito”.

A atitute de Russel chamou tanta atenção que até mesmo um reverendo da Igreja Batista do Canadá, se eu não me engano, publicou uma espécie de informativo intitulado “Algumas verdades sobre o Pastor Charles Russel”, onde dizia que Russel não tinha qualquer conhecimento da língua grega, e que por isso não podia falar o que dizia.
Decorre desse fato o que mencionei mais acima, uma vez que Russel, indignado com a publicação, processou o reverendo por calúnia. No tribunal, quem acabou condenado foi ele, que não foi capaz de identificar o alfabeto grego.
Como mentor das principais heresias das TJ, Russel é, de fato, o responsável pela Tradução do Novo Mundo e pela deturpação do texto, uma vez que tudo o que fora modificado ali, o foi unicamente para atender às deturpações de seus ensinamentos: tudo aquilo que, em vida, ele afirmava.

Ora, por mais razões ainda é lícito chamá-lo de responsável pela injúria:
Primeiro: porque não houve qualquer tradução; é simplesmente absurdo localizar no espaço e no tempo, como você fez no comentário, uma coisa que nem sequer existiu. A chamada Tradução do Novo Mundo é uma mentira, uma alucinação, nunca aconteceu.
Segundo: o comitê inexistente da tradução inexistente não divulgou nomes dos responsáveis pela tradução. Isso é redundante, uma vez que não se pode divulgar nomes de fantasmas, mas acrescentemos a isso o fato de que ´nenhum dos membros poderia ser levado novamente a Julgamento (como tantos outros, como F.W. Franz, suposto especialista em hebraico, foi levado), mesmo que aceitassem mentir, colocando seus nomes lá, como especialistas. Tudo o que foi feito se resume à uma paráfrase patética, com todo tipo de absurdo, para se adequar às heresias da Seita, junto com algumas explicações risíveis sobre o Grego Antigo – explicações que deixam qualquer estudioso de grego, do nível mais elementar, indignado.
Espero ter esclarecido a dúvida sobre o verdadeiro responsável pelo pastiche da Bíblia publicada pela seita Testemunhas de Jeová.

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Notas
¹ Em literatura, “Pastiche” é uma obra que imita de maneira grosseira o estilo de outra; baseado numa obra já existente, o Pastiche difere na paródia no sentido em que o seu resultado final não beira ao plágio, mas produz um sentido original.
² Afirmar que Jesus Cristo é o Arcanjo Miguel é completamente absurdo; como todas as passagens da Bíblia negam isso, sugerimos ao leitor que abra aleatoriamente a Bíblia em qualquer página e veja por si mesmo.
(*) Luciana Lachance é estudante de letras da UFBA e autora do blog As Chamas do Lar Católico. Ela teve a bondade de nos enviar este importante artigo que com muito gosto publicamos para conhecimento de nossos leitores.

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