Se a pessoa tinha negatividades,
quer estas se tenham manifestado de maneira específica ou
não durante o exorcismo, muitas vezes sente
imediatamente os benefícios.
Geralmente não se repara em que dia é que o exorcismo foi
praticado: pode produzir sensações de bem-estar ou
mal-estar, atordoamento ou sonolência, aparecimento de
desmaio ou desaparecimento de dores; nada disto tem
importância.
O que é importante é avaliar as conseqüências do exorcismo a
partir do dia seguinte.
Em certos caso o doente fica mal durante um ou dois dias,
depois o seu estado melhorara por algum tempo;
geralmente sente repentinamente um bem estar
que pode durar alguns dias ou até bastante tempo, segundo a
gravidade do mal.
Se um
individuo não mostra nenhum sinal de negatividade durante a
benção e não observa nenhum efeito posteriormente, isso
significa, na maioria dos casos, que não há a mínima
negatividade; a origem dos seus problemas é outra.
Mas o exorcista pode convidá-lo a receber outra benção se
tem razões para suspeitar que o demônio está a tentar
passar despercebido.
Além
disso, é interessante notar o que se passa durante as
bênçãos seguintes, tanto no que se refere ao
comportamento do paciente no momento do exorcismo, como no
que se refere às conseqüências dele. Pode acontecer por
vezes que a influência maléfica, depois da primeira
intervenção, já tenha mostrado toda a sua força.
Assiste-se então a uma progressiva diminuição dos fenômenos.
Noutros casos, pelo contrário, é como se a perturbação
maléfica se tentasse esconder e não aparecesse em toda a sua
extensão senão a pouco e pouco; a seguir inicia-se a
fase de regressão.
Lembro-me por exemplo de um adolescente que, durante o
primeiro exorcismo, só tinha dado pequenos sinais de
negatividade; no segundo exorcismo começou a
urrar e a agitar-se. Embora este caso tenha sido
mais sério do que muitos outros foram suficientes
alguns meses de exorcismos para a libertação.
A
colaboração do paciente tem um papel fundamental no sucesso
do exorcismo. Costumo dizer que o efeito dos exorcismos
influi 10% sobre o mal; os outros 90% têm a ver com o
interessado.
Como é
isso? Com muita oração, com a
freqüência aos sacramentos, com uma vida conforme às leis do
Evangelho, com o uso dos sacramentais
(falaremos mais tarde da água, do óleo e do sal exorcizados)
fazendo com que outros rezem (as orações de
toda uma família, duma comunidade paroquial ou religiosa, os
grupos de oração, etc. são verdadeiramente eficazes)
e mandando celebrar missas.
As peregrinações e as obras de caridade também são muito
úteis.
Mas, antes de tudo, é preciso que o próprio reze com
fervor e estabeleça uma relação íntima com Deus, de forma
que a oração se torne habitual. Contatando muitas
vezes com pessoas pouco familiarizadas com as práticas
religiosas, verifiquei ser extremamente eficaz integrá-las
ativamente na paróquia ou num grupo de oração
particularmente nos do Renovamento.
A fim de demonstrar esta necessidade de colaboração, muitas
vezes faço a comparação com a droga:
trata-se de uma situação completamente diferente, mas que
toda a gente conhece bem. Toda a gente sabe que um
drogado se pode curar, mas com duas condições:
é preciso ajudá-lo (inserindo-o numa
comunidade terapêutica, ou de outra forma) porque
sozinho não o faz; por outro lado ele deve colaborar
ativamente, com o seu esforço pessoal, sem o qual qualquer
ajuda é inútil.
No
caso que nos interessa, a ajuda pessoal é dada pelos
meios que mencionamos. E, se os frutos diretos do
exorcismo, isto é, a libertação, são excessivamente lenta
em contrapartida já assisti a conversões rápidas;
famílias inteiras empenhadas numa prática cristã vivida de
forma intensa, e reunidas numa oração em conjunto
(muitas vezes o terço).
Vi
obstáculos à cura serem ultrapassados com uma enorme
generosidade: por vezes o obstáculo tratava-se de uma
situação matrimonial irregular; outras vezes o
impedimento vinha da incapacidade de perdoar certas
injustiças ou de conseguir reconciliar-se com as pessoas, na
maioria dos casos parentes próximos com os quais todo o
contato se havia cortado.
Convém
chamar a atenção para o que constitui um dos preceitos
evangélicos mais duros, e daí também a sua eficácia: o
perdão concedido aos inimigos. No caso
presente os inimigos são na maior parte das vezes aqueles
que fizeram o malefício e que em alguns casos ainda o
continuam a fazer. Um perdão sincero, uma
oração por eles e a celebração de missas em seu favor, foram
os meios que já permitiram desbloquear uma situação e
acelerar a cura.
Citemos, entre os efeitos do exorcismo, a cura de males e de
doenças muitas vezes consideradas incuráveis.
Pode-se tratar de dores inexplicáveis, afetando diversas
parte do corpo (especialmente, repetimos, a cabeça e o
estômago), mas também doenças específicas diagnosticadas com
precisão pelos médicos mas não curadas, ou declaradas
incuráveis por estes.
O demônio tem este poder de provocar doenças.
O Evangelho fala-nos de uma mulher que o demônio trazia
encurvada já há dezoito anos (deformação da coluna
vertebral); Jesus cura-a expulsando o demônio tal como
cura um surdo mudo reduzido a esse triste estado por um
malefício. Em várias ocasiões Jesus cura pessoas que ficaram
surdas e mudas por presenças maléficas. O Evangelho
distingue com muita precisão os doentes dos possessos, mesmo
quando certas conseqüências possam parecer idênticas.
Quais os doentes mais graves?
Quais os mais difíceis de curar?
Sei por experiência que são os que foram vítimas de bruxedos
particularmente graves.
Lembro-me por exemplo de vários casos de pessoas que
tinham sido vítimas de feitiçaria no Brasil (a chamada
macumba): dei bênção a outros a quem os feiticeiros
africanos tinham feito feitiços. Todos casos excessivamente
complexos.
Não
esquecer os feitiços que visam famílias inteiras para as
destruir; por vezes é se confrontado com situações tão
complicadas que nem se sabe por onde começar. Às pessoas a
quem periodicamente fazem novos feitiços também a cura se
torna mais morosa: o exorcismo é mais forte que a
feitiçaria, e embora a cura forçosamente se verifique um
dia, pode ser retardada durante muito tempo.
Quem são os mais atingidos?
Eu responderia sem hesitação: os jovens.
Basta pensar nas causas culpáveis que indicamos como
ocasiões que se oferecem ao demônio para poder interferir
numa pessoa, e veremos como hoje, com a falta de fé e
de idéias, os jovens são os mais expostos a “experiências”
desastrosas.
Mesmo as crianças correm grandes riscos, não por culpa
própria, mas por causa da sua fragilidade.
Quantas vezes, ao exorcizar pessoas de meia idade, vimos a
descobrir que a presença demoníaca remonta à sua primeira
infância, por vezes ao momento do nascimento, ou mesmo
antes, durante a gestação.
Várias
vezes me fizeram notar que me procuram mais mulheres do que
homens para receber benções. E acontece o mesmo com todos os
exorcistas. Não se deve concluir daí que a mulher
esteja mais exposta aos ataques do Maligno. Homens e
mulheres estão igualmente expostos. A verdade é que as
mulheres se dispõem muito mais a recorrer às bênçãos dum
exorcista. Muitos homens, embora tenham a certeza de
estar atingidos, não querem abeirar-se de um padre.
E conheci mais homens do que mulheres que quando lhes foi
pedido que mudassem de vida, recusaram.
Nunca mais deram sinal de vida, mas estavam perfeitamente
conscientes do seu mal. O obstáculo maior residia na
passagem da prática dum ateísmo confortável a uma fé vivida,
ou duma vida de pecado para uma vida de graça.
Não vou esconder que a cura deste mal requer um compromisso
pessoal e uma vida cristã intensa. Creio que é precisamente
este um dos motivos porque Deus o permite.
Quantas vezes ouvi os meus pacientes confessar que a
sua fé era fraca e a sua vida de oração quase inexistente.
Aproximaram-se de Deus dedicando-se muitas vezes mesmo a um
apostolado intenso, e vieram a reconhecer que essa
aproximação se ficou a dever ao mal que os tinha atingido.
Estamos muito mais agarrados a esta terra e a esta
vida do que imaginamos; pelo contrário o Senhor vê
mais longe e vela pelo nosso bem eterno.
Por
seu lado o exorcista, ao dar as bênçãos, não se
contentará em incitar o paciente a rezar e a empregar
todos os outros meios já falados, mas procurará
todos os meios possíveis para intimidar, enfraquecer e
aniquilar o demônio. O Ritual preconiza que se insista nas
expressões às quais o demônio reage mais (varia, segundo os
indivíduos e os dias).
Mas
existem também outros procedimentos. Para uns é
insuportável ser aspergidos com água benta; outros ficam
exasperados com o sopro, que é um meio ao qual se recorre
desde a época patrística, como refere Tertuliano; outros
ainda não suportam o cheiro do incenso, pelo que é muito
inútil usá-lo; finalmente para outros é doloroso o som do
órgão, da música sacra, do canto gregoriano.
Trata-se de meios auxiliares de que já testamos a eficácia.
E como é que o demônio se comporta durante os exorcismos?
A este
respeito acrescentaria uma coisa ao que já foi dito. O
demônio sofre e faz sofrer. O sofrimento que ele experimenta
durante o exorcismo é qualquer coisa de imaginável. Um dia o
Pe. Cândido perguntou a um demônio se havia fogo no inferno,
um fogo que queime para o bem; o demônio respondeu-lhe:
“Se tu soubesses que fogo tu és para mim, não me farias essa
pergunta”. Certamente não se trata de fogo terrestre,
provocado pela combustão de matérias inflamáveis.
Mas apercebemo-nos que o demônio se queima pelo contato com
objetos sagrados como crucifixos, relíquias ou água benta.
Aconteceu-me várias vezes ouvir o demônio reconhecer que
sofria mais durante as bênçãos do que no inferno. E quando
lhe perguntei: “Neste caso porque não vais para o inferno?”
ele respondeu-me: “Porque a mim, só me importa fazer
esta pessoa”. Vê-se aqui a verdadeira perfídia
diabólica: o demônio sabe que não vai tirar nenhum proveito
disso, mas que pelo contrário será castigado com um aumento
da sua punição eterna por cada um dos sofrimentos que causa.
E apesar disso, embora correndo o risco de perder com
isso, não renuncia a fazer o mal pelo único prazer de fazer
mal.
Os
próprios nomes dos demônios indicam, tal como acontece com
os Anjos, a sua função. Os principais demônios têm nomes
bíblicos ou transmitidos pela tradição: satanás ou belzebu,
lúcifer, amodeu, zabulão... Outros nomes designam mais
precisamente a finalidade que se propõem atingir:
Destruição, Perdição, Ruína,..., ou simplesmente males
específicos: Insônia, Terror, Discórdia, Inveja, Ciúme,
Luxúria,...
Quando
deixam uma alma, os demônios, na maioria dos casos, são
destinados ao inferno, mas também outras vezes mandados para
o deserto (vê-se no livro de Tobias, a sorte de asmodeu
encadeado no deserto pelo Arcanjo Rafael). Eu obrigo-os
sempre a ir aos pés da cruz para receber o destino que Jesus
- Cristo, o único Juiz, lhes tem reservado.
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