"Pela tarde chegaram os dois anjos a
Sodoma. Lot, que estava assentado à porta da cidade, ao vê-los,
levantou-se e foi-lhes ao encontro e prostrou-se com o rosto por terra" (Gn 19,1).
Todo
católico já deve ter sido interpelado por um protestante a respeito do
uso das imagens na Igreja Católica. Suas perguntas nesta matéria
sempre vêm com a acusação de que nós católicos somos idólatras porque
fazemos uso das imagens. O mais interessante e também triste é que
normalmente essas pessoas se dizem ex-católicas. E não me surpreendo em
sempre verificar que foram “católicos” muito mal formados ou
totalmente ignorantes da doutrina que dizem ter professado.
Será que esses ex-“católicos” já leram
no Catecismo da Igreja Católica o ensino da Igreja sobre o uso das
imagens? Lá encontramos:
2131. Com base no mistério do Verbo
encarnado, o sétimo Concílio ecuménico, de Niceia (ano de 787)
justificou, contra os iconoclastas, o culto dos ícones: dos de Cristo, e
também dos da Mãe de Deus, dos anjos e de todos os santos. Encarnando,
o Filho de Deus inaugurou uma nova «economia» das imagens.
2132. O culto cristão das imagens
não é contrário ao primeiro mandamento, que proíbe os ídolos. Com
efeito, «a honra prestada a uma imagem remonta (63) ao modelo original»
e «quem venera uma imagem venera nela a pessoa representada» (64). A
honra prestada às santas imagens é uma «veneração respeitosa», e não
uma adoração, que só a Deus se deve:
«O culto da religião não se dirige
às imagens em si mesmas como realidades, mas olha-as sob o seu aspecto
próprio de imagens que nos conduzem ao Deus encarnado. Ora, o movimento
que se dirige à imagem enquanto tal não se detém nela, mas orienta-se
para a realidade de que ela é imagem» (65).” (Catecismo da Igreja Católica, 2131-2132.)
Na Sagrada Escritura há
outras passagens que condenam a confecção de imagens como, por exemplo:
Lv 26,1; Dt 7,25; Sl 97,7 e etc. Mas também há outras passagens que
defendem sua confecção como: Ex 25,17-22; 37,7-9; 41,18; Nm 21,8-9; 1Rs
6,23-29.32; 7,26-29.36; 8,7; 1Cr 28,18-19; 2Cr 3,7,10-14; 5,8; 1Sm 4,4
e etc.
Pode Deus infinitamente perfeito entrar
em contradição consigo mesmo? É claro que não. E como podemos explicar
esta aparente contradição na Bíblia? Isto é muito simples de ser
explicado. Deus condena a idolatria e não a confecção de imagens.
Quando o objetivo da imagem é representar um ídolo que vai roubar a
adoração devida somente a Deus, ela é abominável. Porém quando é
utilizada ao serviço de Deus, no auxílio à adoração a Deus, ela é uma
benção.
"Farás também dois
querubins de ouro; de ouro batido os farás, nas duas extremidades do
propiciatório. Farás um querubin na extremidade de uma parte, e outro
querubin na extremidade de outra parte; de uma só peça com o
propiciatório fareis os querubins nas duas extremidades dele." (Ex 25,18-19)
"E disse o Senhor a Moisés: Faze
uma serpente ardente e põe-na sobre uma haste; e será que viverá todo
mordido que olhar para ela. E Moisés fez uma serpente de metal e pô-la
sobre uma haste; e era que, mordendo alguma serpente a alguém, olhava
para a serpente de metal e ficava vivo." (Nm 21,8-9)
"Este [Ezequias] tirou os altos, e
quebrou as estátuas, e deitou abaixo os bosques e fez em pedaços a
serpente de metal que Moisés fizera, porquanto até aquele dia os filhos
de Israel lhe queimavam incenso e lhe chamavam Neustã."(2Rs 18,4).
Embora a Bíblia mostre claramente em
quais casos a confecção das imagens é permitida, os “leitores da
bíblia” proíbem o uso das imagens em qualquer caso, desta forma
extrapolando indevidamente o mandamento de Deus.
Ajoelhar-se e prostar-se é sempre adoração ou idolatria?
Dizem ainda que nós católicos somos
idólatras porque nos ajoelhamos diante das imagens dos santos e lhe
fazemos pedidos. Esta acusação demonstra uma tremenda ignorância por
parte dos protestantes entre o culto de adoração (latria) e o culto de
veneração (dulia). A própria Escritura que eles dizem conhecer e seguir
dá testemunho da distinção entre as duas coisas.
Ajoelhar-se também é um sinal de
reverência e veneração. Os súbitos devem prestar veneração pelos Reis,
ou por uma autoridade suprema. O filho pelos pais, os alunos pelos
professores e os discípulos pelo mestre. Tudo isso está em conformidade
com a ordem estabelecida por Deus. Vejamos alguns exemplos na Sagrada
Escritura:
"Pela terceira vez, mandou o rei
[Ocozias da Samaria] um chefe com os seus cinqüenta homens, o qual,
chegando aonde estava Elias, pôs-se de joelhos e suplicou-lhe,
dizendo: Peço-te, ó homem de Deus, que a minha vida tenha algum valor
aos teus olhos e a destes cinqüenta homens teus servos " (2Rs 1,13).
Na passagem acima um mensageiro do Rei
Ocozias da Samaria põe-se de joelhos diante do Profeta Elias. Por que
faz isso? Para suplicar-lhe que permita viver com seus cinqüenta
companheiros de viagem, pois antes Elias mandou vir fogo do céu sobre
duas equipes
anteriores. O ato de súplica não é um ato de adoração, mas
de humildade, de rebaixamento, onde se reconhece no outro sua
superioridade ou seu poder de atender-lhe um pedido.
Nós católicos quando nos ajoelhamos
diante das imagens dos santos e lhe fazemos pedidos, não estamos
adorando ídolos, mas dirigindo nossa súplica aos nossos irmãos na fé
que representados por suas imagens já se encontram na presença de Deus.
O ajoelhar-se do católico aí é um ato de súplica e não de adoração.
Com efeito, ensina o Catecismo da Igreja Católica”
956. A intercessão do santos. “Pelo
fato de os habitantes do Céu estarem unidos mais intimamente com
Cristo, consolidam com mais firmeza na santidade toda a Igreja. Eles não
deixam de interceder por nós ao Pai, apresentando os méritos que
alcançaram na terra pelo único mediador de Deus e dos homens, Cristo
Jesus. Por conseguinte, pela fraterna solicitude deles, nossa fraqueza
recebe o mais valioso auxílio” (Lumen Gentium 49)
Será que os ex-“católicos” alguma vez
leram este parágrafo do Catecismo? Sinceramente, eu duvido... Vejamos
outro interessante testemunho da Escritura Sagrada:
"Abraão levantou os olhos e viu
três homens de pé diante dele. Levantou-se no mesmo instante da entrada
de sua tenda, veio-lhes ao encontro e prostrou-se por terra" (Gn 18,2).
O texto sagrado testemunha que Abraão
prostra-se ao ver os três anjos do Senhor. Devemos acusar o Patriarca
de idolatria? Obviamente que Abraão não estava adorando os anjos, pois
se fosse este o caso eles o teriam repreendido, como fez o anjo que
revelava o apocalipse a S. João (cf. Ap 22,8-9). Entretanto, Abraão
estava prestando-lhes culto de reverência, reconhecendo a condição
superior dos anjos de Deus.
"Aquele que violar um
destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar assim aos homens,
será declarado o menor no Reino dos céus. Mas aquele que os guardar e
os ensinar será declarado grande no Reino dos céus" (Mt 5,19).
Ora, por acaso não são os santos
exatamente aquelas pessoas que venceram na fé e que agora podem ser
consideradas grandes no Reino dos Céus como ensinou Nosso Senhor? Cabe
ainda lembrar que para o Senhor o menor no Reino do Céu é maior do que
qualquer um que esteja vivendo na terra (cf. Mt 11,11).
Embora os atos de veneração e súplica
sejam externamente iguais à reverência que se deve somente a Deus,
internamente são coisas bem distintas e a própria Escritura Sagrada
distingue bem as duas coisas. Mais alguns exemplos interessantes:
"Moisés saiu ao encontro de seu sogro, prostrou-se e beijou-o. Informaram-se mutuamente sobre a sua saúde e entraram na tenda" (Ex 18,7).
"Quando Abigail avistou Davi, desceu prontamente do jumento e prostrou-se com o rosto por terra diante dele" (1Sm 25,23).
Porém, alguém poderia levantar a
seguinte objeção: “mas, os exemplos dados são de pessoas vivas
venerando pessoas vivas e não mortas”. Primeiramente, isso não é
totalmente verdade já que os anjos do Senhor não podem ser considerados
“pessoas vivas”, mas seres espirituais. Em segundo lugar, os santos que
estão no céu também são seres espirituais. Em terceiro, a Escritura dá
testemunho da veneração do rei Saul ao profeta Samuel já falecido:
"Qual é o seu aspecto? É um ancião, envolto num manto. Saul compreendeu que era Samuel, e prostrou-se com o rosto por terra" (1Sm 28,14).
Mais sobre atos de veneração podem ser encontrados em Gn 23,12; Gn 33,3; Ex 18,7; 1Sm 25,41; 2Sm 9,6; 14,4.
Adorar é reconhecer a divindade e oferecer sacrifício
Deus condena a confecção de ídolos,
pois o ídolo leva as pessoas a prestarem a ele o culto que só se deve a
Deus: o culto de adoração. Adorar um ato de reconhecimento da
divindade e oferecimento de sacrifício.
Os pagãos realmente adoravam seus ídolos, pois lhes reconheciam a divindade e lhes ofereciam sacrifício:
"Habitando os israelitas em Setim, entregaram-se à libertinagem com as filhas de Moab. Estas convidaram o povo aos sacrifícios de seus deuses, e o povo comeu e prostrou-se diante dos seus deuses" (Nm 25,1-2).
"Em vão Acaz tinha despojado o
templo do Senhor, o palácio real e os príncipes para fazer presentes ao
rei da Assíria. Tudo isso de nada lhe valeu. Embora estivesse
angustiado, o rei Acaz continuou seus crimes contra o Senhor. Oferecia sacrifícios aos deuses de Damasco, que o tinham derrotado: São, dizia ele, os deuses dos reis da Síria que lhes vêm em auxílio; oferecer-lhes-ei, portanto, sacrifícios para que me ajudem igualmente. Mas foram a causa de sua queda e de todo o Israel" (2Cr 28,21-23).
No segundo livro dos Reis encontramos o conceito completo de idolatria por meio de sua condenação:
"O Senhor tinha feito com eles uma aliança e lhes tinha dado a seguinte ordem: Não adorareis outros deuses, nem vos prostrareis diante deles; não lhes prestareis culto, e não lhes oferecereis sacrifícios" (2Rs 17,35).
Os pagãos prostravam-se diante de seus
ídolos não para reconhecerem neles instrumentos e servos de Deus de
condição superior a nossa e que são capazes de interceder por nós junto
a Deus, mas crendo que eram deuses verdadeiros e portanto capazes de
eles mesmos realizarem milagres.
Em 2Rs 17,35 Deus apresenta a doutrina
em sentido negativo. No versículo seguinte encontramos o conceito da
verdadeira adoração:
"Mas temei ao Senhor que vos tirou do Egito com o poder de seu braço. A ele temereis, diante dele vos prostrareis e a ele oferecereis os vossos sacrifícios" (2Rs 17,36).
Somente a Deus devemos nos prostrar reconhecendo-lhe a divindade e oferecendo-lhe o sacrifício devido.
Os verdadeiros idólatras de nosso tempo
são aqueles que oferecem sacrifício de animais (geralmente galinhas e
carneiros) aos seus falsos deuses. Os protestantes não adoram a Deus,
apenas o louvam. Seu culto é apenas um culto de louvor e não de
adoração. Só no catolicismo se adora a Deus, pois na Santa Missa é
oferecido a Deus o cordeiro imaculado que é Nosso Senhor Jesus Cristo,
conforme sua própria prescrição (cf. Mt 14,22-25; Lc 22,17-20; 1Cor
11,23-29).
Fonte : http://www.veritatis.com.br
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