Temos escritos vários artigos
falando sobre a Sagrada Tradição, que é o veículo oral da Revelação de
Cristo. Os Santos Apóstolos receberam a pregação do Senhor Jesus e
depois foram difundindo esta pregação por todo o mundo conhecido. A
pregação dos Apóstolos, foi transmitida na Igreja de Deus de duas
formas: por via oral e por escrito.
Temos também publicado vários
testemunhos primitivos(1) que mostram que tanto a Sagrada Escritura
quanto a Sagrada Tradição sempre foram guardados pela Igreja de Deus
como verdadeira Palavra de Deus.
No séc. XVI com o movimento da "Reforma
Protestante", os "reformadores" pregavam que a Palavra de Deus é
somente a Sagrada Escritura, contrariando é claro a fé antiga que a
Igreja recebeu dos apóstolos.
Nossos artigos têm provacado verdadeiro
tumulto no mundo protestante, pois a maioria das pessoas que estão em
suas fileiras não sabiam da existência da Sagrada Tradição. Em
contra-partida os apologistas protestantes têm afirmado que a Tradição a
que se refere os primitivos cristãos não se refere a algo que está
fora das Sagradas Escrituras. Dos muitos artigos que se encontram na
Internet defendendo esta tese, transcrevo abaixo o trecho de um que
muito bem apresenta tal argumento:
"A Tradição de Que Paulo Trata Não É Extrabíblica
Em Gálatas 1: 13 e 14 Paulo fala que
perseguia os cristãos seguindo a tradição de seus pais pela qual tinha
grande zelo. Em Colossenses 2:8 ele recomenda cuidar-se contra os que
ensinavam 'sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos
homens'. E quando o apóstolo dos gentios refere-se à tradição cristã,
ele de modo algum está falando de algo derivado do pensamento popular
mas do que ele mesmo ensinou: 'Assim, pois, irmãos, permanecei firmes e
guardai as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja
por epístola nossa'.
Certos autores católicos citam esta
passagem para dar a entender que além do texto escrito, haveria
tradições relevantes não registradas nas páginas sagradas. Contudo, a
própria passagem ressalta aos leitores primários do apóstolo a
importância de se aterem ao que lhes fora ensinado, 'seja por palavra,
seja por epístola nossa'. Que o 'seja por palavra' não difere do que
foi dado 'por epístola' é a conclusão mais lógica a se tirar. Ou será
que algum tema fundamental, básico para a fé e prática cristãs, ficaria
sem registro? Iria Paulo ser tão omisso em suas 13 ou 14 epístolas,
deixando de fora de seu repertório de ensinos teológicos, práticos e
admoestações individuais ou coletivas algum tema de fato vital para a
comunidade cristã? O que ele expressou 'por palavra' certamente não
destoaria do que fez 'por epístola'." (Artigo "A fonte de verdade e salvação: Sola Scriptura ou Bíblia e Tradição?". Autor: Azenilto G. Brito. Fonte: http://www.azenilto.com/34dVERDSALVA.html)
O autor das linhas acima conclui que
quando São Paulo se refere ao que ele ensinou "seja por palavra" o
Santo Apóstolo está se referindo ao que ele ensinou "por epístola
nossa.". Para ele essa "é a conclusão mais lógica a se tirar", pois "Iria
Paulo ser tão omisso em suas 13 ou 14 epístolas, deixando de fora de
seu repertório de ensinos teológicos, práticos e admoestações
individuais ou coletivas algum tema de fato vital para a comunidade
cristã?".
Desta forma, o apologista protestante
defende a Sola Scriptura alegando que o que São Paulo ensinou por
palavra não vai além daquilo que ele ensinou por Escrito. E como ele
chega a esta "conclusão mais lógica a se tirar"? Partindo do princípio
de que o Apóstolo escreveu tuda a sua doutrina. Ora, mas não é
exatamente isto que se quer provar? Como pode ele defender a Veracidade
da Sola Scritpura assumindo como premissa exatamente aquilo que está
sendo questionado?
Aqui está o problema da "petição de
princípio". Ora, quando se quer provar a veracidade de um argumento,
não se pode assumir como premissa aquilo que se quer provar. E esse é
exatamente o recurso da "brilhante" apologética protestante que
infelizmente consegue atrair para o erro os mais simples.
O que ensina a Sagrada Escritura?
A Sagrada Escritura dá testemunho de que os Apóstolos não deixaram por escrito toda a sua teologia.
"Tenho muito a vos escrever, mas não
quero fazê-lo com papel e tinta. Antes, espero ir ter
convosco e falar
face a face, para que nossa alegria seja completa" (2Jo 1,12).
"Tenho muitas coisas que te escrever,
mas não quero fazê-lo com tinta e pena. Espero, porém, ver-te
brevemente, e falaremos face a face" (3Jo 1,13-14)
Os dois trechos acima mostram que o
Apóstolo São João não deixou por escrito tudo aquilo que comunicou aos
crentes, tendo comunicado outras coisas somente de viva vóz.
"[Jesus] depois de ter padecido, se
apresentou vivo, com muitas e infalíveis provas, sendo visto por eles
por espaço de quarenta dias e falando do que respeita ao reino de
Deus." (At 1,3)
Veja que o que o Senhor Ressucitado
comunicou aos Apóstolos durante os 40 dias em que permaneceu ainda na
terra antes de ir ao Céu, não foi colocado por escrito por nenhum dos
Apóstolos. Outro fato interessante é que a grande maioria dos apóstolos
nada escreveu, não deixou nada por escrito, tramitindo sua teologia
somente por
via oral.
via oral.
A Sagrada Escritura dá testemunho de instruções que foram transmitidas somente por via oral
"E a oração da fé salvará o doente, e o
Senhor o levantará; e se houver cometido pecados, ser-lhe-ão
perdoados." (Tg 5,10). Aqui São Tiago faz referência a uma das
instruções que não se encontram nos Evangelhos ou nas espístolas dos
Apóstolos.
"Em tudo vos tenho mostrado que assim,
trabalhando, convém acudir os fracos e lembrar-se das palavras do
Senhor Jesus, porquanto ele mesmo disse: É maior felicidade dar que
receber!" (At 20,35). Aqui o Santo Apóstolo faz referência a palavras
de Cristo que não se encontram em nenhum dos Evangelhos.
Testemunhos dos Primitivos Cristãos
Mostramos acima que a Sagrada Escritura
dá testemunho da existência de outro "veículo" da Revelação Divina, que
trasmitiu esta Revelação por via meramente oral. A este "veículo" os
antigos chamavam de Sagrada Tradição, que ao contrário do que imagina a
apologética protestante, é algo bem distinto da Sagrada Escritura.
Transcreveremos abaixo alguns trechos de uma famosa e grandiosa obra do
Período Patrístico, obra muito estimada na antiguidade Cristã e que
serviu como referência para a Igreja Antiga definir no Concílio de
Constantinopla o dogma da Divindade do Espírito Santo. Vejamos agora o
testemunho que ela dá do pensamento primitivo quanto à Verdade Revelada
que não constra na Sagrada Escritura:
"Entre as verdades conservadas e
anunciadas na Igreja, umas nós as recebemos por escrito e outras nos
foram transmitidas nos mistérios, pela Tradição apostólica. Ambas as
formas são igualmente válidas relativamente à piedade. Ninguém que
tiver, por pouco que seja, experiência das instituições eclesiásticas,
há de contradizer. De fato, se tentássemos rejeitar os costumes não
escritos, como desprovidos de maior valor, prejudicaríamos
imperceptivelmente o evangelho, em questões essenciais. Antes,
transformaríamos o anúncio em palavras ocas. " (Tratado sobre o Espírito Santo. Cap 66. São Basílio de Cesaréia (Bispo). 380 D.C.).
"Um dia inteiro nao nos bastaria se
quiséssemos expor os mistérios da Igreja que não constam das
Escrituras. Deixando de lado tudo mais, pergunto de quais passagens
retiramos a profissão de fé no Pai e no Filho e no Espírito Santo. Se a
extraímos da tradição batismal, de acordo com a piedade (pois devemos
crer segundo a maneira como fomos batizados), para entregarmos uma
profissão batismal, essencial ao batismo, conseqüentemente nos seja
permitido também glorificar conforme nossa fé. Mas, se esta forma de
dar glória nos é recusada, por não constar das Escrituras, sejam-nos
mostradas provas escritas da profissão de fé e de todo o restante, que
enumeramos. Desde que há tantas coisas que não foram escritas, e coisas
tão importantes para o mistério da piedade, ser-nos-á recusada uma só
palavra, proveniente dos Pais, que nós vemos persistir por um uso
espontâneo nas Igrejas isentas de desvios, uma palavra muito razoável, e
que muito contribui para a força do mistério?" (Tratado sobre o Espírito Santo. Cap 67. São Basílio de Cesaréia (Bispo). 380 D.C.).
Outra obra célebre da Antiga Igreja que é
bem anterior a obra de São Basílio de Cesaréia, também dá testemunho
da distinção que há entre a Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura:
"Quando são [os gnósticos] vencidos
pelos argumentos tirados das Escrituras retorcem a acusação contra as
próprias Escrituras, (...) E quando, por nossa vez, os levamos à
Tradição que vem dos apóstolos e que é conservada nas várias igrejas,
pela sucessão dos presbíteros, então se opõem à tradição." (Contra as Heresias 2,1-2 Livro III. Santo Ireneu de Lião (Bispo). 220 D.C).
Portanto, o nosso argumento de que São
Paulo ao se referir às tradições ensinadas "por palavra" refere-se a
algo distinto daquilo que fora ensinado "por epístola", não vem de
nossa imaginação, mas da Antiga Fé que a Igreja recebeu dos Apóstolos.
Se a Sagrada Tradição não fosse algo distinto da Sagrada Escritura, São
Paulo em sua epístola aos Tessalonicenses não precisaria fazer
referência "às tradições que foram transmitidas por palavra". No
entanto ele faz referência a ambas tradições, tanto as "ensinadas seja
por palavra, seja epístola nossa", exatamente por se tratar de algo
distinto um do outro, conforme dá testemunho dos antigos Cristãos.
Esta é a doutrina que está no ceio da
Igreja Católica desde os tempos apostólicos. Tendo Ela recebido este
Evangelho jamais poderá aliar-se a um Evangelho diferente daquele
recebido dos Apóstolos (Gl 1,8). Mas infelizmente muitos por falta de
conhecimento e fé no Magistério da Igreja (cf. 1Tm 3,15) acabam de bom
grado acolhendo outro "evangelho" (cf. 1Cor 11,3-4).
Já nos tempos mais remotos a Igreja
combatia aqueles que incentivavam o esquecimento da Sagrada Tradição,
conforme podemos a testar no testemunho de São Basílio de Cesaréia (o
Magno):
"Meta comum de todos os adversários,
inimigos da sã doutrina, é abalar o fundamento da fé em Cristo,
arrasando, fazendo desaparecer a Tradição apostólica.
Por isso, eles, aparentando ser
detentores de bons sentimentos, recorrem a provas extraídas das
Escrituras, e lançam para bem longe, como se fossem objetos vis, os
testemunhos orais dos Padres." (Tratado sobre o Espírito Santo, Cap 25).
Como vemos o incentivo de se esquecer a Sagrada Tradição de forma alguma é algo que surgiu com a Reforma Protestante.
Na verdade os antigos erros surgidos na
Cristantade cada qual em seu próprio tempo e que a Igreja de Deus tanto
lutou para combater e enterrar; depois de muitos séculos esquecidos em
suas tumbas, foram ressucitados de uma só vez com o movimento da
Reforma Protestante. Este fato me parece ser o cumprimento da seguinte
visão profética do Santo Apóstolo:
"Vi, então, descer do céu um anjo que
tinha na mão a chave do abismo e uma grande algema. Ele apanhou o
Dragão, a primitiva Serpente, que é o Demônio e Satanás, e o acorrentou
por mil anos. Atirou-o no abismo, que fechou e selou por cima, para
que já não seduzisse as nações, até que se completassem mil anos.
Depois disso, ele deve ser solto por um pouco de tempo." (Ap 20,1-3)
Autor: Alessandro Lima *.
* O autor é arquiteto de software, professor, escritor, articulista e fundador do Apostolado Veritatis Splendor.
Autor: Prof. Alessandro LimaFonte: Veritatis Splendor
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